sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Identidade, quem? (Em agradecimento aos 10k no Instagram)

 A busca pela própria identidade, muitas vezes é frustrante, principalmente se é acompanhada de desprezo alheio, pois gera, também, a busca por atenção, o "ser notado a qualquer custo". Aquela mulher de jeans liso e regata branca, no meio da multidão de rostos pintados, correntes no pescoço, camisetas pretas e calças rasgadas, gosta menos da banda de rock que está tocando no palco? Independentemente da resposta, é caçoada pelos demais. E estes, são considerados "diferentes" pelos que rondam da porta pra fora. Será o exótico, comum aos "exilados"? Veja bem, ao querer ser diferente e original, no meio de gente diferente e original, o verdadeiro exótico é aquele que não se esforça para parecer. Assim como uma mulher em várias, por mais que siga o padrão do meio, é destacada pela atitude, pelo olhar, pelo carisma, por qualquer "algo a mais" que carregar.

 O tal do "normcore" é um novo termo para fashionizar (já que estamos falando de novos termos) a roupa que vamos à padaria. Se usar um all star, um jeans liso e uma regata branca em Londres, correrá o risco de ser fotografada e parar em um blog de moda brasileiro, então será chamada de "it girl". E se agora se fantasiar do tal do "boho chic", que também "chegou" para desafiar o comum, se esta for sua verdadeira identidade, em duas temporadas você não será mais a "it girl" pois está "fora da vitrine". Boho chic, normcore, street style, clássico, todos esses estilos sempre existiram, a diferença é que com o tempo, as marcas, lojas, os designers se inspiram a produzir uma série de roupas e objetos para reciclá-los, e para que você possa lembrar de buscar sempre sua identidade, afinal: "Nada se cria, tudo se transforma", disse Lavoisier. 

 A It Girl não é aquela que cativa a própria tribo e sim aquela que cativa a todas, mas permanece com sua essência. A falha das mulheres que querem fazer parte dessa "realeza social" (aqui, não me refiro necessariamente ao luxo) é que mascaram a insegurança e baixa autoestima com fantasias, assim, gastando seu dinheiro, tempo e própria essência para o agrado alheio, esquecendo de si. A culpa não é das propagandas, do capitalismo e sei lá o que, sua decadência social e financeira não é culpa de ninguém a não ser de você mesma, que esquece que nessa troca de estilos constante, é tudo sobre a sua própria busca pela identidade.

 Das maiores frustrações de estar no topo da cadeia dessa selva toda que são os humanos, a menos intensa é de perceber que, em certo momento, ninguém mais sabe por que te admira. Falo pelas pessoas que já cruzaram meu caminho, gente que estoura os limites de curtidas e seguidores em redes sociais, mas na rua é um anônimo, e gente que é tão conhecida na vida que não precisa de uma paralela virtual. Os talentosos que não são bem reconhecidos por não possuírem carisma, viram ralé que os belos sem essência pisam na ascensão. Longe de generalizar! Afinal, há um abismo entre os que entram para a "lista VIP" por serem camaleões artistas -daqueles com mil e uma utilidades- e os que procuram essa eficiência após assinarem contrato com a popularidade.

 Já vi artista jogar fora seu talento por medo de não ser correspondido e vi caras de pau botando a mão no fogo por mais metáforas. O jogo de interesses? Faz parte. "Fulano só se aproximou de mim para conseguir sei lá o que, falso!", é o choro popular. Ora, não diria falso, das duas, uma: esperto ou fraco. Se alguém sobe pelos seus ombros, ou você foi fraco por ter ficado para trás, ou fulano é tão vazio que o vento levará para longe sem seus ombros como apoio. Entende o que quero dizer? Você sempre sairá ganhando se um dia te "usarem", porque além de ser o ciclo natural da vida, aprende a ser forte para segurar o outro e para não cair do ombro de alguém.

 Acha que 100 curtidas em uma foto é pouco? Imagine uma sala vazia e um telão, imagine sua foto exibida nele e veja 100 pessoas entrarem na sala a aplaudirem sua foto enquanto a observam, dá um arrepio, não? Agora imagine cada vez mais pessoas, aumente essas casas decimais, escute o som ficar mais alto, veja a sala lotar! E agora? A troco de quê? Não sente um vazio? Quem são esses 10 mil espectadores te louvando? E quem é você para eles, se não te conhecem de verdade? Calma, respira, não entra em crise, é só admiração pelo seu trabalho, pelos obstáculos que você contornou, pelo carisma que você soube usar, você merece, afinal. Mas sempre será uma dúzia não curiosa, que se contenta em admirar somente sua beleza (tudo bem, faz parte), e outra dúzia de curiosa até demais, que quer chamar sua atenção em meio à multidão, mostrando para os outros seu lado podre e convencendo-os a saírem da sala, a quebrarem as expectativas dos demais, até que só sobre você e essa dúzia nela e, assim, recomeçarem de novo aquela roda do interesse. Para que não canse demais a tal da novela social, dar aos 10 mil sujeitos, um nome próprio com letra maiúscula no inicio e tudo mais, é um começo para a despadronização dos diferentes, da decadência de uma monarquia para uma democracia, da essência reprimida para um compartilhamento de personalidades, portanto: 

 Quem sou eu? Meu nome é Aline Angela, mas se não me conhece, me chame de Ange (ou Angie), pois desse jeito, a expectativa que tem de mim será aos poucos desgastada. Eu fotografo, sou modelo, faço peças de jóia de cobre e cristais, escrevo por lazer, viajo por paixão e profissão, dizem que canto bem, mas é só tom de chuveiro, rabisco uns desenhos com nanquim, mas prefiro pintar telas, tento experimentar um pouco de cada arte mas não vou mentir para você, não: meu domínio da segunda e quinta arte são ridículos. Detesto persianas, adoro cheiro de fósforo apagado e não suporto choro de crianças, o resto você conhece aos poucos pois tenho muitas histórias para te contar. Só não se iluda: quando achar que me conhece, você ainda não sabe de nada. 

 E você, quem é você?

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 A identidade era crime. O original também. A herança que a censura nos deixou, ao mesmo tempo que libertou alguns, reprimiu outros até hoje. "Não se reprima"! Criei uma lista de reprodução com os heróis da Tropicália, representantes do movimento da identidade social. É, na verdade, um mix de letras que te lembram da luta alheia por si próprio e outras que não te deixam esquecer de simplesmente ser. O tropicalismo teve filhos, e eles também cantam liberdade.

Quem é você? (Tropicália e seus filhos) by Angie AACA on Grooveshark

3 comentários:

  1. Quando eu acho que não posso ler nada mais sincero de você, me vem isso. Não tenho muito o que comentar, além, de que você é uma pessoa iluminada. Continue escrevendo, fotografando e "abrindo portas" para outras pessoas... você inspira! VOCÊ é arte, Angie!

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  2. Nossa, Angie, nunca li um post tão original e tocante. A gente realmente para pra pensar depois de ler. Espero que vc continue com esse blog para que nós possamos conhecer a pessoa iluminada e exótica que vc é! Blessed be.

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